terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Adeus


Quando aquele alguém lhe diz adeus
o coração aperta quão botão de rosa
pirilampo apaga
borboleta não pousa em flor
manga madura teima em não cair do pé

terça-feira, 7 de dezembro de 2010


Quando Amanhecer

Vanessa da Mata

Quando amanhecer será para iluminar você
Vai anoitecer o dia se não vier
Mas se for presente tudo iluminará
Meu amor, meu coração
Como deve ser,
Se ser como Deus quer,
For milagre, resignação
Roupa colorida, alegrias vistas
Indecência, indiscrição
Seu cheiro me achando
Minha alma perdida
Direi que é céu no chão
Quando anoitecer será para te fazer dormir
Estrelas que nem brilhantes pra te vestir
Vai saber que Deus fez as Damas da Noite
Preparando seu buquê
Como vai dizer não
Se tudo que eu vejo está aqui pra te servir
A mais bela roupa
Roupa de ir à festa, coloquei pra te esperar
Disco na vitrola
Uma vela acesa
E a lua mais cheia
Quando o sol nascer será para desenhar você
Ou será você que virá pro sol nascer?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Descobrindo poetisas

Entre a flor
   E a hora
Espaço a minha sombra


Entre o ramo
   E o rumo
Emaranho-me

Helena Parente Cunha

domingo, 21 de novembro de 2010

 Pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se. E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo.

Clarice Lispector

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ploct ploct ploct

Ganhei jabuticaba e manga. Deu vontade de escrever haikais. Sem regras, tá bom.

Fruta doce
uma, duas, um monte
ploct ploct ploct
hummmm

Lambuza manga
uma...
peraí
amanhã tem mais

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Alice Ruiz - Haikais e Se...

o vento passou
restou apenas
o aceno das árvores
Alice Ruiz


canto dos pássaros
um grita mais alto
tô fraco, tô fraco
Alice Ruiz


a noite avança
o cheiro da dama da noite
invade a sala
Alice Ruiz / Ná Ozzeti


no jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
Paulo Leminski

no jardim da minha filha
do capim à orquídea
é tudo família
Alice Ruiz
 
Nos anos 70 o Paulo escreveu o haikai lá de cima pra mim porque eu não tinha coragem de acabar com um formigueiro que tinha em meio as plantas que eu cultivava. No último fim de semana, isto é, mais de trinta anos depois, estava na varanda da casa da Estrela, lugar que ela já transformou em floresta de tantos vasos e onde cresce tudo que vocês possam imaginar, quando me brotou esse haikai para ela e, de certa forma, para ele também. Alice Ruiz (comentário sobre haikais / http://aliceruiz.com.br/haikai?page=4)


Se
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse…

Alice Ruiz

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Descobrindo um poeta Ondjaki

desnoções & algibeiras


para ser grilo

há que ter algibeiras

onde também caibam silêncios.

ser sorrateiro

espreitando entre dois fios de relva.

saber fazer uma teia invisível

onde o infinito se armadilhe.

encarar o universo com

demasiada intimidade

– a modos que quintal.

saber que:

as estrelas encarecem

de carinho

e brilham para mais desanonimato;

sonetar com roncos de garganta

mas desminar rebentamentos no coração.

para ser grilo

há que ter desnoções.

viver que:

há só uma distanciaçãozinha

entre apalmilhar um quintal

e acomodar estrelas num abraço.

ondjaki

sábado, 6 de novembro de 2010

Dois Poemas

I

Nas tardes quentes
nada mais que fazer:
Esquecer as mãos
aquietadas como aranhas
e amarrar o silêncio
à pura solidão
do silêncio.

Ii

Quisera desabar sobre ti
como chuva forte.
As coisas são boas quando destroem
e se deixam destruir.
Só assim eu venho:
Eco de profundas grutas,
nada leve
uma irrealidade
estar aqui.

Só sei amar assim
E é assim que te lavro, deserto.

Olga Savary

domingo, 31 de outubro de 2010

Água da Minha Sede

Água da Minha Sede

Roberta Sá
Composição: Dudu Nobre e Roque Ferreira
Eu preciso do seu amor

Paixão forte me domina
Agora que começou
Não sei mais como termina
Água da minha sede
Bebo na sua fonte
Sou peixe na sua rede
Por do sol no seu horizonte
Quando você sambou na roda
Fiquei afim de te namorar
O amor tem essa história
Se bate já quer entrar
Se entra não quer sair
Ninguém sabe explicar
O meu amor é passarinheiro
Ele só quer passarinhar
Seu beijo é um alçapão
Seu abraço é uma gaiola
Que prende meu coração
Que nem moda de viola
Na gandaia (na gandaia)
Fruto do seu amor me pegou (na gandaia)
Sua renda me rodou (foi a gira)
Foi cangira que me enfeitiçou
Apaixonado
Preciso do seu amor

sábado, 30 de outubro de 2010

Corrigindo data

Palácio das Artes

Exposição
Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga
20 de outubro a 28 de novembro
Que bom!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Números???

Acabo de chegar de uma exposição no Palácio das Artes entitulada: AMAZÔNIA, A ARTE. Seleciono fotos do que realmente me tocou a série Marcados de Claudia Andujar, reconhecida por sua dedicação ao povo Yanomâmi. As fotos foram tiradas em 1981, quando Andujar ingressou no projeto de saúde indígena que buscava vacinar os yanomâmis nos mais isolados cantos da região norte do país, realizando cerca de mil imagens em cerca de cem aldeias. As imagens foram obtidas como registro de um projeto de saúde, mas vão muito além disso. Vale conferir!


 




Também vale a pena conferir no mesmo espaço (Palácio), a exposição "RIO SÃO FRANCISCO NAVEGADO POR RONALDO FRAGA'. Só que esta termina amanhã (28/10/10)!!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Natureza Humana

Terminei hoje a leitura de 'Antes de nascer o mundo' de Mia Couto. Confesso, que fiquei entristecida e com saudades de Mwanito, Ntunzi e Silvestre Vitálicio.

Já posso dormir, pai. Já abracei a terra.
Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p.256.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Finalmente meu ipê branco e 'citare'




Esta semana consegui esta foto, de um ipê recém florido; e localizar o texto, que me instigou a escrever este blog.


Citar vem do latim: citare. Referir ou transcrever (um texto) em apoio ao que se afirma, segundo o Aurélio. A língua que falamos no dia a dia favorece os tagarelas, soneteiros e os que falam pelos cotovelos. Quantas palavras imprecisas, ditas ao vento, são necessárias para descrever o silêncio? “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”, sintetizou o filósofo Wittgenstein.

Aforismos e epigramas, máximas e pensamentos, sentenças e ditos memoráveis nos lembram que tudo na vida é por aproximação, da matemática ao amor. E pode crer, “o que hoje é demonstrado, um dia foi apenas imaginado”, como afirma o poeta Blake.

Toda citação maior é uma espécie de pensamento lúcido, fragmento condensador de uma possível beleza-verdade, farol que ilumina o mundo em ruínas. A citação é nuvem “onde o sol cala”, como no Inferno de Dante: “No meio do caminho desta vida/ me vi perdido numa selva escura,/ solitário, sem sol e sem saída”.

Jorge Luis Borges era um escritor pródigo em citações. Rescreveu argumentos, lendas e fantasias de outros séculos. No ensaio intitulado “Livro”, Borges anota que, “certa vez, perguntaram a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia. Ele respondeu: Todo livro que vale a pena ser relido foi escrito pelo Espírito Santo”. A bíblia não é nada mais do que um mosaico de citações, sermões e parábolas.

Lima Barreto dizia que “sábio é aquele que escreve livros com as opiniões dos outros”. Shaw diz que “a mais tola das ilusões é a que leva os homens a conceber-se como moralmente superiores aos que têm opiniões diferentes das suas”. Já Pessoa diz que “não ter opiniões é existir. Ter todas opiniões é ser poeta”.

Muitos leitores acreditam que os citadores são pensadores originais. Lucrécio achava que ”nada pode ser criado a partir do nada”. Já Andre Gide, por sua vez, diz que, “todas as coisas já estão ditas, mas, como ninguém escuta, é preciso recomeçar sempre”. A citação é uma lembrança do que “poderia-ter-sido”, do “não-mais” ou do “tarde-demais”. “O que não é destino é frivolidade”, diz Ortega e Gasset.

Poetas, filósofos, pregadores e animadores sempre foram mestres em citar o pensamento dos outros. Mas há quem use as sentenças para ter uma visão do mundo ou para simplesmente levar a vida. No entanto, “um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo circundado e perfeito e acabado em si mesmo como um porco-espinho”, como muito bem definiu Friedrich Schlegel.

Erza Pound, que ditou as regras usadas pelos poetas concretos, era um citador dos tempos medievais, um reinventor dos caracteres (ideogramas) orientais. Vivia com o nome de Confúcio e Bashô na ponta da língua. Já o visionário Nietzsche desenvolveu toda a sua filosofia a partir dos pensadores gregos. Seu pensamento filosófico é uma trama de fragmentos, máximas e relâmpagos. Para ele, “aquele que escreve em sangue e em máximas não quer ser lido, mas aprendido de cor.”

James Joyce, em “Ulisses”, afirma que, “depois de Deus, Shakespeare foi quem mais criou”. Segundo Shakespeare, “a vida é uma história narrada por um idiota, cheia de barulho e fúria, não significando nada”. Machado de Assis diz que, “não se comenta Shakespeare, admira-se”.

Mas voltando ao irlandês Joyce, pode-se dizer que a sua obra serviu como fonte de idéias, e ainda recurso estilístico para a construção da obra de Samuel Beckett. Joyce bebeu nas águas profundas da memória de Proust. Segundo Dino Buzzatti, “todos os escritores e artistas, não importa por quanto tempo vivam, dizem somente uma única e mesma coisa”.

“A República”, de Platão, outro exemplo de livro de citações, é uma narrativa, discussão dialética encabeçada por Sócrates a um auditório anônimo. Segundo Goethe, a dialética é um desenvolvimento do espírito de contradição, dado ao homem para que ele aprenda a reconhecer a diferença das coisas.

Michel de Montaigne, autor da sentença que diz que ”filosofar é aprender a morrer”, e inventor do gênero ensaio que vem a ser “uma experiência sentimental do intelecto”, é um mestre em ilustrar seus textos com a fala clássica de Homero, Ovídio, Sêneca.

O pensador romano Pompeu é o autor do célebre dístico que diz “navegar é preciso, viver não é preciso”. Esta sentença popular também foi citada por Plutarco e pelo poeta Fernando Pessoa. “E para que poetas em tempos de miséria?”, perguntava Horderlin. Segundo Murilo Mendes, “o sofrimento dos poetas, dos artistas e dos santos torna-se o estrume espiritual da humanidade”.

“Deus está nos detalhes”, disse o arquiteto alemão Mies Van de R. e o romancista Guimarães Rosa. “Ao diabo com os detalhes, a posteridade é cega a todos eles”, segundo Voltaire. Para Emil Michel Cioran, “ as religiões morrem por falta de paradoxos”. Mas “que melhor dom podemos esperar que o de sermos insignificantes?”, pergunta Jorge Luis Borges. Também não deveríamos esquecer que, “se, na hora da morte de um homem, toda a compaixão dos outros homens se juntasse para impedi-lo de partir, esse homem não morreria”, afirma o poeta César Vallejo. Mas para Maiakoviski, “a morte não é difícil. Difícil é a vida e o seu ofício”.

A citação nos leva a um livro, a um lugar qualquer, a um tempo exato. Desafia a realidade, ensina a ver o mundo com os olhos dos outros e a conhecer as coisas do nosso jeito de ser. “Ser ou não ser, eis a questão”. Freud afirma que “sou onde não penso”. “Nada do que é humano me é estranho”, pensa Terêncio. Esse era um dos aforismos preferidos de karl Kraus, especialista em citar para ironizar.

Um aforismo é a síntese do conhecimento. Kraus diz que um aforismo jamais diz a verdade; ele sempre diz uma meia verdade, ele sempre diz uma verdade e meia.

Pedro Maciel

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Filosofia Zen

Quem quer a eternidade olha o céu, quem quer o momento olha a nuvem.

Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p. 147.

Estranha primavera

Estranha esta primavera. Todos os ipês florindo ao mesmo tempo. Particularmente não me agrada. Creio que a coincidência também não apetece as árvores. Têm graça ipê rosa florir junto com o amarelo? Ou o branco disputar com o rosa? A expectativa da chegada da próxima floração é que inebria. Ver o ipê amarelo recebendo todas as glórias, sozinho e no seu tempo. Esta é a graça. Já basta ter de dividir as atenções com o jacarandá mimoso. Nesta estranheza e também devido à correria da vida não consegui capturar a floração das árvores que mais amo. Do ipê amarelo, nenhuma fotinha. Do branco, o mais ligeiro de todos, dizem serem três dias a duração de sua floração; somente flores ao chão. Ah será a tal mudança climática...ou uma peça da natureza para nos deixar tontos de tantas cores, sensações e lembranças.

Ipê branco ...tarde demais

Jacarandá mimoso
  Ipês rosa

Fotos: Renata

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.

Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Filosofia verde

Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.

Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p.73.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pés in natura

Foto: Renata

Brincadeira

'Chove chuva chuvisquinho
Minha calça tem furinho.
Chove chuva chuvarada
Minha calça está furada.'
Viva eu, viva tu, Lenice Gomes, p.19

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Indicações preciosas

Guimarães Rosa e Mia Couto

Qualquer obra destes autores é uma super indicação. Listo o pouco que li e que me é muito especial.

De Guimarães
Manuelzão e Miguilim
Grande Sertão: Veredas

Indico também, um pequeno livro, na verdade uma produção obtida de um trabalho acadêmico, que descreve os significados da natureza na obra de Guimarães. Segundo a autora, Mônica Meyer, a paixão de Guimarães pelo mundo natural salta das páginas. E como solta.

'Descrições impregnadas de cores que formam uma verdadeira aquarela...'


Morros azuis me percorrem; desenharam-se do céu; Ao fundo, a Serra dos Gerais - mal levantada, chata, mas se estirando num movimento sensível, suave movimento, via norte. Com sua espinha e base verde-escuras, entre êsses o flanco verde-claro, onde se hospedam as úmidas veredas. O céu é uma poeira azul. Papagaios no vôo-loiros verdadeiramente.


Boiada de Guimarães Rosa

Ser-tão natureza - A natureza em Guimarães Rosa, Mônica Meyer, p.130.

De Mia Couto

O último voo do flamingo
Terra sonâmbula
Antes de nascer o mundo (em leitura)

A melhor das descobertas, Mia é biólogo. Assim como Guimarães, um naturalista, que se utiliza de percepções e vivências únicas do mundo natural.

'No rio me demorava em espraiados sonhos. Aguardava por meu irmão que, ao fim da tarde, se vinha banhar. Ntunzi despia-se e ficava assim, desprotegido, olhando a água exactamente com a mesma nostalgia com que o via contemplar a mala de viagem que ele fazia e desfazia todos os dias. Uma vez, me perguntou:
-Já esteve debaixo de água miúdo?
Neguei com a cabeça, ciente de que não entendia a fundura da pergunta dele.
-debaixo de água - disse Ntunzi-enxergam-se coisas impossíveis de imaginar.'

Antes de nascer o mundo, Mia Couto, p.25.

domingo, 5 de setembro de 2010

Memórias - 3

No caminho da faculdade, bem próximo ao prédio que estudava, havia um grupo de árvores bastante atrativas para beija-flores, com flores cheinhas de néctar. Pois bem, a partir desta constatação, criei uma mania infalível. Na verdade, quase. Ao passar pelo local dizia 'se eu ver um beija-flor meu dia será maravilhoso'. É claro que diminuia o passo e às vezes até parava, para garantir a observação e o desfrute do meu dia maravilhoso. Bem, como era por esperar estas avezinhas adoráveis começaram a me dar bolo. Um dia até me atrasei a obsevar o céu. Estaria eu diante da possibilidade de um dia não maravilhoso? Paciência. Um dia eles voltaram, lindos, livres  e esfoameados.

Viver
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

Mario Quintana, Baú de espantos, 607-608.

sábado, 28 de agosto de 2010

Memórias - 2

Quem não já pegou uma baita chuvarada. Chuva é a 2a do ranking. Adorava ir para escola em dia de chuva. Bem adorar é pegar pesado, vamos dizer, assim, transformava o limão em uma boa limonada. Tem coisa mais divertida do que cantar na rua em dia de chuva? Ninguém te escuta. Era o máximo. Segue abaixo meu repertório, na adolescência, em dia de chuva.

Chove Chuva
Jorge Ben Jor


Chove Chuva
Chove sem parar...
Pois eu vou fazer uma prece
Prá Deus, nosso Senhor
Prá chuva parar
De molhar o meu divino amor...


Que é muito lindo
É mais que o infinito
É puro e belo
Inocente como a flôr...

Deixa Chover
Guilherme Arantes


...Deixa chover

Ah! Ah! Aaaaaaah!
Deixa a chuva molhar


Dentro do peito
Tem um fogo ardendo
Que nunca vai se apagar...

Lágrimas e chuva

Kid Abelha

...Lágrimas e chuva

Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão dos meus problemas

Que eu quero esquecer
Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos esse instante...

Memórias - 1

Pensei em postar minhas memórias mais vivas de 'na natureza' e com elas poesia.

A primeira do ranking rsss é alergia. Tinha lá meus sete, oito anos, num dia ensolarado, tempos de correria e brincadeira. Havia bem perto um campo lindo com florzinhas pequetitinhas mesmo e super atrativas. Colhi um monte e logo em seguida uma coceira insuportável tomou conta de mim. Nunca mais tirei as pobrezinhas do seu lugar.

Finalmente
(Alzira Espíndola / Paulo Salles e Itamar Assumpção)


A vida toda eu esperei por agora
Sentir o teu perfume assim tão de pertinho
Esse teu cheiro que existe só na flora
Naquelas flores que também contém espinhos
A vida toda eu esperei essa glória
Beijar mordendo esses teus lábios de fruta
Boca vermelha cor de amora cor da aurora
Dois cogumelos recheados com açúcar
Já vem de longe esse desejo perene
Suco de kiwi escorrendo lentamente
Não é de hoje que eu preciso conter-me
Chegou a hora vamos ver finalmente

domingo, 22 de agosto de 2010

Natureza Humana - Festa de Nossa Senhora do Rosário

Festa de Nossa Senhora do Rosário - Comunidade de Mocambeiro, Matozinhos, MG

Foi extremamente significativo participar desta festa, principalmente porque a região do município de Matozinhos é por demais especial para mim. Há quase 3 anos percorro a região e realizo estudos ambientais. Manifestações genuínas como estas, nos reabastecem de coisas boas e enriquecem nosso imaginário emocional.

Seguem fotos da Guarda de Nossa Senhora do Rosário


Fotos: Renata

Foto: Flávia

domingo, 15 de agosto de 2010

Hilda Hilst - Céu, rio e mar

O homem é só. Mas constelar na essência. / Seu sangue em ouro se transmuta. / Na pedra ressuscita. / No mercúrio se eleva. /



Olha-me de novo. Porque esta noite / Olhei-me mim, como se tu me olhasses. / E era como se a água / Desejasse / Escapar de sua casa que é o rio / E deslisando apenas, sem tocar a margem./ Te olhei. E há tanto tempo / Entendo que sou terra. Há tanto tempo / Espero / Que o teu corpo de água mais fraterno / Se estenda sobre o meu.


Estou no centro escuro de todas as coisas / Mas a visão é larga / Como um grito que se abrisse e abrangesse o mar.


Hilda Hilst
http://www.hildahilst.com.br/

sábado, 14 de agosto de 2010

Percepções

A natureza possui uma multiplicidade de significados traduzidos por inúmeras expressões de arte. Muitas vezes ficou tentada a sair do objetivo central deste blog, a exposição desta multiplicidade. Principalmente quando me deparo com alguma das várias e constantes atrocidades contra a natureza. No entanto, acredito que vivenciar o mundo natural, sob diversas percepções, é muito mais prazeroso, e quem sabe um agente de mudança.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Para amigos

‘Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê que é. Amigo meu era Diadorim...’


Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, 172-173.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O céu de Ícaro


   

     TENDO A LUA  


Composição: Herbert Vianna, Tet Tillett

Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim
O céu de ícaro tem mais poesia que o de galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos de você e eu.
Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim










Espetáculo 'K@osmos', Grupo Puja, FIT 2010 - BH
Fotos: Renata

Há tempos não via um espetáculo tão bonito e inspirador como K@osmos. Os sentimentos são vários, no entanto, um, com certeza , era comum a todos, a vontade estar lá em cima, em pleno vôo. Quem não tem um pouco de Ícaro? Veio, então, a vontade de postar junto com as fotos a poesia de Herbert Vianna.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Adélia e a chuva

Dona Doida


Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Adélia Prado, Poesia Reunida, 108p.

sábado, 31 de julho de 2010

O que te faz bem?

Música faz bem a alma da gente. Algumas, sabe lá o porquê, anestesiam os problemas e trazem naturalmente o sorriso. Hoje trago a minha música, a que me faz bem demais da conta. E é claro traz em sua poesia a natureza. Viva Cartola!!!


Alvorada

Composição: Cartola / Carlos Cachaça / Hermínio Bello de Carvalho

Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
( a alvorada )
Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Ou quase nada, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida.
 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O porquê do post abaixo

Um dos frutos gerados pelas organizações q Saramago menciona.
 Desastre no golfo. Descaso da British Petroleum (BP).

Para refletir : Democracia segundo José Saramago

Aqui está um dos melhores trechos do filme 'Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá, de Silvio Tendler (Brasil, 2006)'.






 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Filosofia Zen

gyozui no
sutedokoro naki
mushi no koe


nenhum lugar
para jogar a água do banho
som de insetos

Uejima Onitsura


Nas casas tradicionais no Japão, não havia sistema de encanamento de água, desta forma, a água do banho tinha de ser jogada para fora. O poeta, então, ouvindo o som de insetos se preocupa, não quer pertubá-los.

sábado, 17 de julho de 2010

Esse é o cara

Ney Matogrosso


Ontem fui a um dos melhores shows da minha vida e para a minha surpresa este tinha um certificado de neutralização de carbono. E mais ... toda emissão de carbono gerada na produção do cd 'Beijo Bandido', também, foi revertida no plantio de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Para o Dia Mundial do Rock



A Rainha do rock brazuca : Rita Lee Jones


Baila Comigo

Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio
Viver pelado, pintado de verde num eterno domingo
Ser um bicho preguiça e espantar turista
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol
Se Deus quiser um dia acabo voando
Tão banal, assim como um pardal, meio de contrabando
Desviar de estilingue, deixar que me xinguem
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, banho de sol
Baila comigo, como se baila na tribo
Baila comigo, lá no meu esconderijo
Se Deus quiser um dia eu viro semente
E quando a chuva molhar o jardim, ah, eu fico contente
E na primavera vou brotar na terra
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol
Se Deus quiser um dia eu morro bem velha
Na hora "H" quando a bomba estourar quero ver da janela
E entrar no pacote de camarote

Disco "Rita Lee" / 1980

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Alberto Caeiro

Tereza Rita Lopes, Fernando Pessoa - Coleção Melhores Poemas, 162p.
Quanta tristeza e amargura afoga
Em confusão a 'streita vida!
Quanto infortúnio mesquinho
Nos oprime supremo!
Feliz é o bruto que nos verdes campos
Pasce, para si mesmo anônimo e entra
Na morte como em casa;
Ou o sábio que, perdido
Na ciência, a fútil vida austera eleva
Além da nossa, como o fumo que ergue
Braços que se desfazem
A um céu inexistente.

Ricardo Reis

Teresa Rita Lopes, Fernando Pessoa - Coleção Melhores Poemas, p.144

domingo, 11 de julho de 2010

Memórias de infância

Lenice Gomes, André Neves (ilustrador), Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!
Luisa Aguilar, André Neves (ilustrador), Orelhas de mariposa.
Lindas as ilustrações de André Neves. Com certeza é na infância que despertamos para a natureza, da forma mais lúdica e gostosa que existe. Fui até o meu baú da memória e fui buscar os livros infantis, que mais me marcaram. A memória não é muito boa, mas veio na hora a série 'Cachorrinho Samba', de Maria José Dupré. Os preferidos: 'O Cachorrinho Samba na Floresta' e 'O Cachorrinho Samba na Fazenda'. Procurei e achei uma capa (ilustração) antiga e atual (muito sem graça). É incrível a identificação, que fica e toca o coração.

A nova ilustração...cachorro estranho.

Olha que cãozinho valente.