domingo, 31 de outubro de 2010

Água da Minha Sede

Água da Minha Sede

Roberta Sá
Composição: Dudu Nobre e Roque Ferreira
Eu preciso do seu amor

Paixão forte me domina
Agora que começou
Não sei mais como termina
Água da minha sede
Bebo na sua fonte
Sou peixe na sua rede
Por do sol no seu horizonte
Quando você sambou na roda
Fiquei afim de te namorar
O amor tem essa história
Se bate já quer entrar
Se entra não quer sair
Ninguém sabe explicar
O meu amor é passarinheiro
Ele só quer passarinhar
Seu beijo é um alçapão
Seu abraço é uma gaiola
Que prende meu coração
Que nem moda de viola
Na gandaia (na gandaia)
Fruto do seu amor me pegou (na gandaia)
Sua renda me rodou (foi a gira)
Foi cangira que me enfeitiçou
Apaixonado
Preciso do seu amor

sábado, 30 de outubro de 2010

Corrigindo data

Palácio das Artes

Exposição
Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga
20 de outubro a 28 de novembro
Que bom!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Números???

Acabo de chegar de uma exposição no Palácio das Artes entitulada: AMAZÔNIA, A ARTE. Seleciono fotos do que realmente me tocou a série Marcados de Claudia Andujar, reconhecida por sua dedicação ao povo Yanomâmi. As fotos foram tiradas em 1981, quando Andujar ingressou no projeto de saúde indígena que buscava vacinar os yanomâmis nos mais isolados cantos da região norte do país, realizando cerca de mil imagens em cerca de cem aldeias. As imagens foram obtidas como registro de um projeto de saúde, mas vão muito além disso. Vale conferir!


 




Também vale a pena conferir no mesmo espaço (Palácio), a exposição "RIO SÃO FRANCISCO NAVEGADO POR RONALDO FRAGA'. Só que esta termina amanhã (28/10/10)!!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Natureza Humana

Terminei hoje a leitura de 'Antes de nascer o mundo' de Mia Couto. Confesso, que fiquei entristecida e com saudades de Mwanito, Ntunzi e Silvestre Vitálicio.

Já posso dormir, pai. Já abracei a terra.
Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p.256.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Finalmente meu ipê branco e 'citare'




Esta semana consegui esta foto, de um ipê recém florido; e localizar o texto, que me instigou a escrever este blog.


Citar vem do latim: citare. Referir ou transcrever (um texto) em apoio ao que se afirma, segundo o Aurélio. A língua que falamos no dia a dia favorece os tagarelas, soneteiros e os que falam pelos cotovelos. Quantas palavras imprecisas, ditas ao vento, são necessárias para descrever o silêncio? “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”, sintetizou o filósofo Wittgenstein.

Aforismos e epigramas, máximas e pensamentos, sentenças e ditos memoráveis nos lembram que tudo na vida é por aproximação, da matemática ao amor. E pode crer, “o que hoje é demonstrado, um dia foi apenas imaginado”, como afirma o poeta Blake.

Toda citação maior é uma espécie de pensamento lúcido, fragmento condensador de uma possível beleza-verdade, farol que ilumina o mundo em ruínas. A citação é nuvem “onde o sol cala”, como no Inferno de Dante: “No meio do caminho desta vida/ me vi perdido numa selva escura,/ solitário, sem sol e sem saída”.

Jorge Luis Borges era um escritor pródigo em citações. Rescreveu argumentos, lendas e fantasias de outros séculos. No ensaio intitulado “Livro”, Borges anota que, “certa vez, perguntaram a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia. Ele respondeu: Todo livro que vale a pena ser relido foi escrito pelo Espírito Santo”. A bíblia não é nada mais do que um mosaico de citações, sermões e parábolas.

Lima Barreto dizia que “sábio é aquele que escreve livros com as opiniões dos outros”. Shaw diz que “a mais tola das ilusões é a que leva os homens a conceber-se como moralmente superiores aos que têm opiniões diferentes das suas”. Já Pessoa diz que “não ter opiniões é existir. Ter todas opiniões é ser poeta”.

Muitos leitores acreditam que os citadores são pensadores originais. Lucrécio achava que ”nada pode ser criado a partir do nada”. Já Andre Gide, por sua vez, diz que, “todas as coisas já estão ditas, mas, como ninguém escuta, é preciso recomeçar sempre”. A citação é uma lembrança do que “poderia-ter-sido”, do “não-mais” ou do “tarde-demais”. “O que não é destino é frivolidade”, diz Ortega e Gasset.

Poetas, filósofos, pregadores e animadores sempre foram mestres em citar o pensamento dos outros. Mas há quem use as sentenças para ter uma visão do mundo ou para simplesmente levar a vida. No entanto, “um fragmento tem de ser como uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo circundado e perfeito e acabado em si mesmo como um porco-espinho”, como muito bem definiu Friedrich Schlegel.

Erza Pound, que ditou as regras usadas pelos poetas concretos, era um citador dos tempos medievais, um reinventor dos caracteres (ideogramas) orientais. Vivia com o nome de Confúcio e Bashô na ponta da língua. Já o visionário Nietzsche desenvolveu toda a sua filosofia a partir dos pensadores gregos. Seu pensamento filosófico é uma trama de fragmentos, máximas e relâmpagos. Para ele, “aquele que escreve em sangue e em máximas não quer ser lido, mas aprendido de cor.”

James Joyce, em “Ulisses”, afirma que, “depois de Deus, Shakespeare foi quem mais criou”. Segundo Shakespeare, “a vida é uma história narrada por um idiota, cheia de barulho e fúria, não significando nada”. Machado de Assis diz que, “não se comenta Shakespeare, admira-se”.

Mas voltando ao irlandês Joyce, pode-se dizer que a sua obra serviu como fonte de idéias, e ainda recurso estilístico para a construção da obra de Samuel Beckett. Joyce bebeu nas águas profundas da memória de Proust. Segundo Dino Buzzatti, “todos os escritores e artistas, não importa por quanto tempo vivam, dizem somente uma única e mesma coisa”.

“A República”, de Platão, outro exemplo de livro de citações, é uma narrativa, discussão dialética encabeçada por Sócrates a um auditório anônimo. Segundo Goethe, a dialética é um desenvolvimento do espírito de contradição, dado ao homem para que ele aprenda a reconhecer a diferença das coisas.

Michel de Montaigne, autor da sentença que diz que ”filosofar é aprender a morrer”, e inventor do gênero ensaio que vem a ser “uma experiência sentimental do intelecto”, é um mestre em ilustrar seus textos com a fala clássica de Homero, Ovídio, Sêneca.

O pensador romano Pompeu é o autor do célebre dístico que diz “navegar é preciso, viver não é preciso”. Esta sentença popular também foi citada por Plutarco e pelo poeta Fernando Pessoa. “E para que poetas em tempos de miséria?”, perguntava Horderlin. Segundo Murilo Mendes, “o sofrimento dos poetas, dos artistas e dos santos torna-se o estrume espiritual da humanidade”.

“Deus está nos detalhes”, disse o arquiteto alemão Mies Van de R. e o romancista Guimarães Rosa. “Ao diabo com os detalhes, a posteridade é cega a todos eles”, segundo Voltaire. Para Emil Michel Cioran, “ as religiões morrem por falta de paradoxos”. Mas “que melhor dom podemos esperar que o de sermos insignificantes?”, pergunta Jorge Luis Borges. Também não deveríamos esquecer que, “se, na hora da morte de um homem, toda a compaixão dos outros homens se juntasse para impedi-lo de partir, esse homem não morreria”, afirma o poeta César Vallejo. Mas para Maiakoviski, “a morte não é difícil. Difícil é a vida e o seu ofício”.

A citação nos leva a um livro, a um lugar qualquer, a um tempo exato. Desafia a realidade, ensina a ver o mundo com os olhos dos outros e a conhecer as coisas do nosso jeito de ser. “Ser ou não ser, eis a questão”. Freud afirma que “sou onde não penso”. “Nada do que é humano me é estranho”, pensa Terêncio. Esse era um dos aforismos preferidos de karl Kraus, especialista em citar para ironizar.

Um aforismo é a síntese do conhecimento. Kraus diz que um aforismo jamais diz a verdade; ele sempre diz uma meia verdade, ele sempre diz uma verdade e meia.

Pedro Maciel