terça-feira, 30 de novembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Descobrindo poetisas

Entre a flor
   E a hora
Espaço a minha sombra


Entre o ramo
   E o rumo
Emaranho-me

Helena Parente Cunha

domingo, 21 de novembro de 2010

 Pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se. E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo.

Clarice Lispector

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ploct ploct ploct

Ganhei jabuticaba e manga. Deu vontade de escrever haikais. Sem regras, tá bom.

Fruta doce
uma, duas, um monte
ploct ploct ploct
hummmm

Lambuza manga
uma...
peraí
amanhã tem mais

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Alice Ruiz - Haikais e Se...

o vento passou
restou apenas
o aceno das árvores
Alice Ruiz


canto dos pássaros
um grita mais alto
tô fraco, tô fraco
Alice Ruiz


a noite avança
o cheiro da dama da noite
invade a sala
Alice Ruiz / Ná Ozzeti


no jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
Paulo Leminski

no jardim da minha filha
do capim à orquídea
é tudo família
Alice Ruiz
 
Nos anos 70 o Paulo escreveu o haikai lá de cima pra mim porque eu não tinha coragem de acabar com um formigueiro que tinha em meio as plantas que eu cultivava. No último fim de semana, isto é, mais de trinta anos depois, estava na varanda da casa da Estrela, lugar que ela já transformou em floresta de tantos vasos e onde cresce tudo que vocês possam imaginar, quando me brotou esse haikai para ela e, de certa forma, para ele também. Alice Ruiz (comentário sobre haikais / http://aliceruiz.com.br/haikai?page=4)


Se
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse…

Alice Ruiz

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Descobrindo um poeta Ondjaki

desnoções & algibeiras


para ser grilo

há que ter algibeiras

onde também caibam silêncios.

ser sorrateiro

espreitando entre dois fios de relva.

saber fazer uma teia invisível

onde o infinito se armadilhe.

encarar o universo com

demasiada intimidade

– a modos que quintal.

saber que:

as estrelas encarecem

de carinho

e brilham para mais desanonimato;

sonetar com roncos de garganta

mas desminar rebentamentos no coração.

para ser grilo

há que ter desnoções.

viver que:

há só uma distanciaçãozinha

entre apalmilhar um quintal

e acomodar estrelas num abraço.

ondjaki

sábado, 6 de novembro de 2010

Dois Poemas

I

Nas tardes quentes
nada mais que fazer:
Esquecer as mãos
aquietadas como aranhas
e amarrar o silêncio
à pura solidão
do silêncio.

Ii

Quisera desabar sobre ti
como chuva forte.
As coisas são boas quando destroem
e se deixam destruir.
Só assim eu venho:
Eco de profundas grutas,
nada leve
uma irrealidade
estar aqui.

Só sei amar assim
E é assim que te lavro, deserto.

Olga Savary