Quem quer a eternidade olha o céu, quem quer o momento olha a nuvem.
Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p. 147.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Estranha primavera
Estranha esta primavera. Todos os ipês florindo ao mesmo tempo. Particularmente não me agrada. Creio que a coincidência também não apetece as árvores. Têm graça ipê rosa florir junto com o amarelo? Ou o branco disputar com o rosa? A expectativa da chegada da próxima floração é que inebria. Ver o ipê amarelo recebendo todas as glórias, sozinho e no seu tempo. Esta é a graça. Já basta ter de dividir as atenções com o jacarandá mimoso. Nesta estranheza e também devido à correria da vida não consegui capturar a floração das árvores que mais amo. Do ipê amarelo, nenhuma fotinha. Do branco, o mais ligeiro de todos, dizem serem três dias a duração de sua floração; somente flores ao chão. Ah será a tal mudança climática...ou uma peça da natureza para nos deixar tontos de tantas cores, sensações e lembranças.
Ipê branco ...tarde demais
Jacarandá mimoso
Ipês rosa
Fotos: Renata
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Adélia Prado
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Filosofia verde
Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.
Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p.73.
Mia Couto, Antes de nascer o mundo, p.73.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Pés in natura
Foto: Renata
Brincadeira
'Chove chuva chuvisquinho
Minha calça tem furinho.
Chove chuva chuvarada
Minha calça está furada.'
Viva eu, viva tu, Lenice Gomes, p.19
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Indicações preciosas
Guimarães Rosa e Mia Couto
Qualquer obra destes autores é uma super indicação. Listo o pouco que li e que me é muito especial.
De Guimarães
Manuelzão e Miguilim
Grande Sertão: Veredas
Indico também, um pequeno livro, na verdade uma produção obtida de um trabalho acadêmico, que descreve os significados da natureza na obra de Guimarães. Segundo a autora, Mônica Meyer, a paixão de Guimarães pelo mundo natural salta das páginas. E como solta.
'Descrições impregnadas de cores que formam uma verdadeira aquarela...'
Morros azuis me percorrem; desenharam-se do céu; Ao fundo, a Serra dos Gerais - mal levantada, chata, mas se estirando num movimento sensível, suave movimento, via norte. Com sua espinha e base verde-escuras, entre êsses o flanco verde-claro, onde se hospedam as úmidas veredas. O céu é uma poeira azul. Papagaios no vôo-loiros verdadeiramente.
Boiada de Guimarães Rosa
Ser-tão natureza - A natureza em Guimarães Rosa, Mônica Meyer, p.130.
De Mia Couto
O último voo do flamingo
Terra sonâmbula
Antes de nascer o mundo (em leitura)
A melhor das descobertas, Mia é biólogo. Assim como Guimarães, um naturalista, que se utiliza de percepções e vivências únicas do mundo natural.
'No rio me demorava em espraiados sonhos. Aguardava por meu irmão que, ao fim da tarde, se vinha banhar. Ntunzi despia-se e ficava assim, desprotegido, olhando a água exactamente com a mesma nostalgia com que o via contemplar a mala de viagem que ele fazia e desfazia todos os dias. Uma vez, me perguntou:
-Já esteve debaixo de água miúdo?
Neguei com a cabeça, ciente de que não entendia a fundura da pergunta dele.
-debaixo de água - disse Ntunzi-enxergam-se coisas impossíveis de imaginar.'
Antes de nascer o mundo, Mia Couto, p.25.
Qualquer obra destes autores é uma super indicação. Listo o pouco que li e que me é muito especial.
De Guimarães
Manuelzão e Miguilim
Grande Sertão: Veredas
Indico também, um pequeno livro, na verdade uma produção obtida de um trabalho acadêmico, que descreve os significados da natureza na obra de Guimarães. Segundo a autora, Mônica Meyer, a paixão de Guimarães pelo mundo natural salta das páginas. E como solta.
'Descrições impregnadas de cores que formam uma verdadeira aquarela...'
Morros azuis me percorrem; desenharam-se do céu; Ao fundo, a Serra dos Gerais - mal levantada, chata, mas se estirando num movimento sensível, suave movimento, via norte. Com sua espinha e base verde-escuras, entre êsses o flanco verde-claro, onde se hospedam as úmidas veredas. O céu é uma poeira azul. Papagaios no vôo-loiros verdadeiramente.
Boiada de Guimarães Rosa
Ser-tão natureza - A natureza em Guimarães Rosa, Mônica Meyer, p.130.
De Mia Couto
O último voo do flamingo
Terra sonâmbula
Antes de nascer o mundo (em leitura)
A melhor das descobertas, Mia é biólogo. Assim como Guimarães, um naturalista, que se utiliza de percepções e vivências únicas do mundo natural.
'No rio me demorava em espraiados sonhos. Aguardava por meu irmão que, ao fim da tarde, se vinha banhar. Ntunzi despia-se e ficava assim, desprotegido, olhando a água exactamente com a mesma nostalgia com que o via contemplar a mala de viagem que ele fazia e desfazia todos os dias. Uma vez, me perguntou:
-Já esteve debaixo de água miúdo?
Neguei com a cabeça, ciente de que não entendia a fundura da pergunta dele.
-debaixo de água - disse Ntunzi-enxergam-se coisas impossíveis de imaginar.'
Antes de nascer o mundo, Mia Couto, p.25.
domingo, 5 de setembro de 2010
Memórias - 3
No caminho da faculdade, bem próximo ao prédio que estudava, havia um grupo de árvores bastante atrativas para beija-flores, com flores cheinhas de néctar. Pois bem, a partir desta constatação, criei uma mania infalível. Na verdade, quase. Ao passar pelo local dizia 'se eu ver um beija-flor meu dia será maravilhoso'. É claro que diminuia o passo e às vezes até parava, para garantir a observação e o desfrute do meu dia maravilhoso. Bem, como era por esperar estas avezinhas adoráveis começaram a me dar bolo. Um dia até me atrasei a obsevar o céu. Estaria eu diante da possibilidade de um dia não maravilhoso? Paciência. Um dia eles voltaram, lindos, livres e esfoameados.
Viver
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!
Mario Quintana, Baú de espantos, 607-608.
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